sexta-feira, 15 de maio de 2015

Mai de 2015 - As flores e a primavera no Japão

Como já comentei em posts anteriores, as quatro estações do ano são muito bem marcadas no Japão, com neve no inverno, folhagens avermelhadas no outono, o calor do verão, mas, principalmente, as flores da primavera. As mais famosas, é claro, são as flores de cerejeira. Estas árvores estão espalhadas por todo o país, por ruas, parques e até mesmo ao redor de castelos. As flores, chamadas sakuras, existem em várias tonalidades entre o rosa e o branco.

Flores de cerejeira no Castelo de Himeji, 2015

A tradição japonesa é aproveitar a época de florescimento das sakuras para fazer o hanami, que significa apreciar as cerejeiras em flor. Em família, grupos de amigos ou até casais, o programa para as tardes é fazer piqueniques sob as cerejeiras. Nos finais de semana, pode ser até difícil encontrar lugar nos parques mais movimentados pelo número de pessoas, principalmente devido ao fato de ainda ser época de férias escolares.

Hanami no Parque do Castelo de Osaka, 2015
Infelizmente, as cerejeiras se mantêm floridas por cerca de duas semanas apenas. Com o primeiro dia ventoso ou chuva mais forte, as pétalas caem das árvores e deixam o chão e os rio cor-de-rosa, mas as árvores vão perdendo suas flores e retomam as cor verde das flores.

Flores de Cerejeira em Kobe, 2015
Nessa época, existem muitos festivais de flores pelo país inteiro, de acordo com a região. Alguns parques possuem um único tipo de flor, criando uma paisagem única naquela época específica no ano. Um bom exemplo é o Parque Akashi Kaikyo, na Ilha de Awaji, que fica cheio de tulipas.

Parque Akashi Kaikyo, Ilha de Awaji, 2014

O Festival das Azaléias, no parque Nishiyama, em Sabae, também é muito bonito. Com Azaléias brancas, vermelhas, cor-de-rosa e até mesmo laranjas, o parque é repleto de arbustos coloridíssimos durante o final de abril e início de maio.

Festival das Azaléias no Parque Nishiyama, Sabae, 2014

Alguns festivais tem cenários ainda mais majestosos, como o Festival Shibazakura, na base do Monte Fuji. A flor chamada shibazakura é uma flor rasteira em tons de cor-de-rosa assim como a flor de cerejeira, por isso leva a palavra sakura em seu nome. O parque fica com o chão colorido e com o Monte no fundo. É uma vista de tirar o fôlego.

Festival Shibazakura, na base do Monte Fuji, 2015

A primavera com certeza é uma das épocas mais bonitas para visitar o Japão.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Fev de 2015 - Festival da Neve

Algumas semanas atrás, fui pela primeira vez para a Ilha de Hokkaido, região mais ao norte do Japão. Todos os anos em fevereiro ocorre o "Festival da Neve", famoso mundialmente e que atrai muitos turistas, inclusive estrangeiros. O festival ocorre em Sapporo, uma das principais cidades de Hokkaido. O evento recebe mais de 2 milhões de visitantes para ver as centenas de esculturas de gelo, aproveitar as atividades, experimentar as comidas da região e assistir a apresentações musicais, de luzes e até esportivas.

Parque Odori, Sapporo

O festival acontece em três locais. A principal e maior área é o Parque Odori, que se distribui por 12 quadras na região central da cidade. Além das grandes esculturas temáticas, o parque oferecia ringue de patinação no gelo, pista com exibição de saltos em esquis, uma grande praça de alimentação e várias outras atrações. Uma das esculturas mais fotografadas foi a cena de Star Wars, que à noite era iluminada por luzes coloridas, acompanhadas por músicas tema dos filmes. Outra atração bastante popular foi o show de bonecos de Alice no País das Maravilhas.

Escultura de gelo de Star Wars, Festival da Neve, Sapporo, 2015
Show de Bonecos de Alice no País das Maravilhas, Festival da Neve, Sapporo, 2015
O segundo local fica no bairro Susukino, muito popular para as saídas noturnas, com bares e izakayas (bares típicos japoneses). Neste local, uma competição de esculturas de gelo fica exposta para os visitantes. Muitas das esculturas são patrocinadas por estabelecimentos locais.

Escultor refazendo sua obra de arte, Susukino, Sapporo, 2015

O último local chama-se Tsudome. Trata-se de um ginásio da comunidade local. Esta área é basicamente preparada para atividades de neve, como escorregadores de gelo, jogos, snowrafting, labirintos de neve entre outros. No interior do ginásio, além de praças de alimentação, diversos jogos infantis ficam a disposição para as crianças.

Escorregador de gelo, Tsudome, Sapporo, 2015

O festival é realmente interessante. Entretanto, para fugir das multidões, escolhi evitar o final de semana. Considerando que o evento começou em uma sexta-feira, a minha chegada, segunda-feira, ocorreu no quarto dia de evento. Nos dias anteriores, por causa de chuvas e alterações climáticas, as esculturas sofreram diversos danos. Algumas tiveram partes derretidas, outras estavam simplesmente irreconhecíveis. As grandes esculturas mantiveram-se em pé, com pequenas partes dissolvendo-se a com superfícies não tão perfeitas quanto inicialmente.

Escultura de Olaf, Parque Odori, Festival da Neve, Sapporo, 2015

Mas o festival da Neve não é a única atração a ser contemplada em Sapporo no inverno. Uma subida ao monte Moiwa revelou belíssimas paisagens cobertas de neve. A subida acontece parte por teleférico, parte por mini cable-car.

Vista do Monte Moiwa, Sapporo

A visita a Sapporo foi muito interessante. E a vontade de voltar no verão ou primavera fica por aí...

sábado, 31 de janeiro de 2015

Jan de 2015 - Um pouco de inverno

Como muitos devem saber, por estar localizado no Hemisfério Norte, as estações japonesas são contrárias às do Brasil, ou seja, os meses de dezembro, janeiro e fevereiro são inverno. Também é importante ressaltar que apesar de pequeno, o Japão é um arquipélago comprido e estreito, fazendo com que o país tenha variação de temperaturas de acordo com a localidade. Enquanto Okinawa, a ilha mais ao sul, mantém uma temperatura média de cerca de 19º durante o inverno, Hokkaido, a ilha mais ao norte, chega a temperaturas abaixo de zero. Em Kobe, a temperatura tem variado ao redor de uns 9º.

Pavilhão Dourado (Kinkakuji), Kyoto, 2015

As estações no Japão também são muito bem demarcadas, com primaveras verdes e floridas e outonos de folhagens amareladas e avermelhadas. Para o inverno, temos árvores sem folhagens e um eventual acúmulo de neve pela parte central do país. O inverno também significa noites mais longas. Pelas 17h30, o exterior já está escuro e o amanhecer acontece apenas perto das 7h. Se somarmos longas noites de inverno com as celebrações de final de ano, o resultado que temos é: iluminações. Nesta época, acontecem diversos eventos de iluminação pelo Japão inteiro.

Neste inverno, eu visitei alguns. Começando com o Luminarie, na cidade onde moro: Kobe. Este festival vem acontecendo anualmente no mês de dezembro, de 1995, em homenagem às vítimas do Grande Terremoto. A instalação é composta por cerca de 200 mil lâmpadas pintadas a mão doadas pelo governo italiano. Para manter o evento sustentável, é utilizada a energia de biomassa (gerada por decomposição de materiais orgânicos). O evento dura duas semanas e atrai mais de 4 milhões de pessoas todos os anos. Nas proximidades, diversas bancas de comidas são montadas no estilo festival japonês. O layout das luzes é diferente cada ano. Para chegar até as luzes, uma longa fila é demarcada pelas ruas de acesso bloqueado a veículos. Mas mesmo com a multidão, vale a pena a visita. Este ano, algumas partes formavam flores de lis, o que apenas tornou o momento mais especial para mim.

Kobe Luminarie, 2014
Alguns dias mais tarde, eu me aventurei pela região de Arashiyama, em Kyoto, conhecida pela sua Floresta de Bambus. Este evento, chamado Hanatouro, ocorre desde 2005, com iluminações especiais na Floresta de Bambus e na Ponte Togetsukyo. A iluminação funciona apenas durante três horas e meia por noite, infelizmente. São cenas inesquecíveis, com certeza.

Floresta de Bambus durante o Hanatouro, Arashiyama, 2014
Ponte Togetsukyo, Arashiyama, 2014

Em Osaka, os eventos de final de ano são inúmeros. Um deles, também com curta duração foi a instalação do Pato de Borracha... sim Pato de Borracha. Instalada pela primeira vez em 2009, a escultura de Florentijn Hofman mede 10m de altura e é acompanhada por um pequeno show de água e luzes. 

Escultura do Pato de Borracha, Osaka, 2014
Mas a grande atração de Osaka é a projeção em 3D nas paredes do Castelo de Osaka. A entrada no parque não é nem perto de barata. Eles dão um leve desconto para estrangeiros (cerca de 100 yens). Nas proximidades do castelo, várias decorações estão espalhadas, incluindo um túnel de luzes. A projeção no castelo dura pelo menos uns quinze minutos. Com uma música acompanhando as imagens o Castelo passa de cenas de samurais, para padrões alternativos, para transformações do próprio castelo, terminando com uma cachoeira que dá vida a uma fênix e a um dragão dourado. É um show que vale a pena. Ao lado do Castelo, também há um show de música e luzes que vai de música clássica a rock moderno. No fim das contas, vale o valor do ingresso.

3D Mapping no Castelo de Osaka, 2014

Estes foram eventos aqui nas redondezas, mas o Japão inteiro organiza diversos. Porém, não posso falar de final de ano sem falar das festividades natalinas e de Ano Novo, que é claro, são completamente diferentes do que estamos acostumados. O Japão não é um país cristão. As principais religiões do Japão são o Budismo e o Xintoísmo. E em nenhuma delas o feriado de Natal é celebrado. Entretanto, o mundo inteiro conhece a figura do Papai Noel e o dia de Natal. Os japoneses acabaram por adaptar para a cultura deles. O nosso feriado familiar, para eles, é algo como o Dia dos Namorados. É o dia de sair com namorado, marido, noivo, etc. É um dia romântico e um dia lúdico ao mesmo tempo, pois muitos japoneses escolhem vestir fantasias de Papai Noel, Mamãe Noel ou até de rena e Árvore de Natal, em homenagem ao feriado. 

O Ano Novo também é diferente mas por outros motivos. A tradição japonesa de Ano Novo consiste em ir ao templo, fazer seus pedidos e preces, tirar a sorte do Ano Novo. Os templos também ficam repletos de bancas de comidas e jogos. O Ano Novo torna-se um festival, que duram por uns três dias. Alguns vão com roupas normais, outros se vestem em kimonos e participam de forma mais tradicional. Na noite de Ano Novo, os grandes templos costumam ser bem lotados. 

Ikuta Jinja no Ano Novo, Kobe, 2014
Mas o inverno ainda não acabou. E a previsão é que fique cada vez mais frio. Lá vamos nós...


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Dez de 2014 - Massan

Quando grandes mudanças chegam em nossas vidas, como morar no exterior por alguns anos, é comum fazermos muitos planos. Contatar família e amigos frequentemente, manter exercícios regulares, alcançar fluência na língua local, viajar o máximo possível... Acontece que quando a nova rotina começa, alguns planos acabam ficando para trás, como manter os blogs atualizados. Mas nunca é tarde para recomeçar... Como meta para 2015, pretendo reativar esse blog e contar um pouquinho sobre a minha vida aqui no Japão. 

Essa semana eu tive a oportunidade de visitar o estúdio de Osaka da NHK, a organização nacional de radiodifusão pública do Japão. Em parceria com a Universidade onde estudo, eles ofereceram um tour pelos estúdios e uma pequena palestra sobre o design nas produções audiovisuais da empresa. Localizada em um prédio de 17 andares com vista para o Castelo de Osaka, além de noticiários e programas de entretenimento em geral, eles também produzem "dramas", o equivalente às nossas novelas, mas com alguma diferenças. 

Estúdio da NHK em Osaka

A palestra foi feita utilizando um "quadro branco interativo" (algo como um ipad do tamanho de uma televisão de umas 50 polegadas), com imagens dos planejamentos dos cenários, vestimentas, etc. Também pudemos ver os cenários de diversos programas de televisão, assim como do mais recente drama produzido pela emissora: Massan (マッサン). A história se passa na década de 20, portanto, o departamento de design teve bastante trabalho para criação dos cenários e caracterização dos personagens. É claro que fotos eram proibidas.

Depois dessa tão interessante visita, decidi assistir o drama. Fala sobre o casamento de um homem japonês com uma mulher escocesa, no Japão da década de 20, uma época em que casamentos inter-culturais eram ainda mais raros que nos dias de hoje. Eles lutam contra o preconceito da família, dos conhecidos e de toda a sociedade. Em mais de um momento Ellie, a personagem escocesa, escuta a seguinte frase: "não importa o que você faça, você nunca será japonesa".



Mesmo que a história se passe há quase 100 anos atrás, nem todas as dificuldades passadas pelas personagens são passado. O fato de que um estrangeiro jamais se tornará um japonês é um fato. Não é possível mudar o país de origem de uma pessoa. Mas o significado da frase é mais profundo que isso. 
Em países miscigenados como o Brasil, a mistura de raças faz com que a aparência física da população seja muito variada, ou seja, não há uma tipo padrão. Porém, o Japão é um dos países de raça mais pura. É possível reconhecer um japonês de longe, apenas pela vista. Num mar de rostos e corpos semelhantes, um estrangeiro se destaca pela cor dos olhos, da pele, do cabelo, pelo formato do corpo, pela altura, pela maneira de se vestir. 

Mesmo depois de mais de um ano e meio vivendo em Kobe, uma cidade portuária, considerada como uma das mais internacionais da região de Kansai, toda vez que saio de casa sou observada e encarada pelos japoneses. O motivo? Talvez seja curiosidade, talvez estranhamento. Às vezes pode ser lisonjeiro, mas na maioria das vezes é desconfortável. A verdade é que não importa o que eu vista, não importa o que eu faça, eu sempre serei diferente deles. Eu, assim como qualquer estrangeiro de aparência ocidental, jamais será confundido com um japonês. E, portanto, nunca será parte real da sociedade. Pode ser bastante frustrante viver em uma cultura na qual ser aceito é uma grande dificuldade.


Vídeo "Mas nós estamos falando japonês!" (em inglês e japonês)

É claro que existem os japoneses abertos a novas culturas, que recebem estrangeiros muito bem. Logo que cheguei ao Japão, foi com a ajuda de muitos japoneses dispostos que consegui realizar tarefas básicas como abrir uma conta no banco, comprar um cartão para utilizar o trem, entender o contrato para aluguel de um apartamento, ligar o registro de água, etc. Mesmo aqueles que têm medo ou vergonha de falar com estrangeiros, devido à grande dificuldade com outras línguas, fazem todo o seu possível para ajudar alguém que esteja precisando. Se pedir ajuda para encontrar uma loja ou um ponto turístico para um policial, ou mesmo para algum estranho na língua, após o susto inicial, eles usarão as poucas palavras que sabem em inglês, mímica ou até levá-lo pelo braço até seu destino. Não há como negar a disposição dos japoneses. E entre eles, estão àqueles que se aproximam, que apóiam, que fazem o seu melhor possível para acolher e criar laços de amizade. 

A grande questão é, em uma sociedade em que a grande maioria ainda vê estrangeiros como forasteiros, um pequeno grupo de amigos e apoiadores é suficiente para viver uma vida feliz? A resposta dessa pergunta vai depender de cada um.

sábado, 6 de abril de 2013

Abr de 2013 - Os primeiros dias de uma brasileira no Japão

Muitos me perguntaram como estou nessa última semana. Simplesmente não há resposta simples para essa pergunta. Então, vou tentar descrever um pouco desses meus últimos dias para tentar explicar um pouco melhor como estou.

Hoje é sábado, dia 6 de abril de 2013. Chove em Kobe. Foi meu primeiro dia sem "compromissos". A viagem começou no dia 1º de abril, parece mentira, mas foi a mais pura verdade. Embarquei no aeroporto Salgado Filho após me despedir da família e dos vários amigos que foram me dar um último abraço. Acho que a minha sensação era muito diferente daquela de todos que ficaram. De um lado, abraços e lágrimas. Do outro, ansiedade e um pouco de nervosismo. Para falar a verdade, agora que esta começando a cair a ficha de verdade. Até então, parecia uma viagem de turismo, na qual ficaria duas semanas e retornaria para casa. De uma forma ou de outra, entrei no avião que me levaria até São Paulo, uma viagem de cerca de 2h. Depois entrei em outro avião, cujo destino era o aeroporto de Frankfurt, por um pouco menos de 12h. E finalmente chegou o último trecho da viagem, com mais 12h de duração, alcançando o Aeroporto Internacional de Kansai/Osaka.

Aeroporto Internacional de Kansai - Osaka
Bonecas japonesas na chegada do vôo internacional do aeroporto
Algo precisa ser dito sobre a organização japonesa. Apesar de um pouco de fila devido a quantidade de estrangeiros entrando no país, o processo da imigração foi realizado com muita eficiência. Ao chegar minha vez, fui encaminhada diretamente para a seção de novos residentes, onde fiz meu cartão de residente e já saí com ele na mão. As malas chegaram inteiras e sem demora. Na saída, já encontrei uma casa de câmbio ao lado do portão de desembarque. No balcão de informações logo em frente, a atendente me informou prontamente onde encontrar o serviço de transfer que contratei pela internet. Chegando no serviço de transfer, eles já tinham em mãos os papéis com meu nome e minhas informações.

MK Shuttle no Aeroporto Internacional de Kansai/Osaka
Em menos de 15 minutos eu já estava na van que nos levaria para Kobe. A recepção na cidade foi linda, com o final da temporada das cerejeiras em flor.

Cerejeiras em flor em Kobe
 Após largar os primeiros passageiros, descemos na frente da Casa Internacional de Estudantes Hyogo. Minha mais nova residência. Lá, mais uma vez, a organização saltou aos olhos. Na secretaria, eles já possuíam em mãos uma pasta com material sobre a casa e sobre a Universidade de Kobe, onde vou estudar japonês, e a chave do meu quarto. Após apresentação e cópia do passaporte e da carteira de residente, fui encaminhada para o quarto.

Quarto na Casa Internacional de Estudantes de Hyogo
O quarto é bem completo, com geladeira, pia e banheiro. Falarei mais sobre ele em outro post. Na chegada, também já fui informada sobre os horários da orientação sobre a casa e da Universidade no dia seguinte. Após a orientação, um dos estudantes japoneses residentes na casa nos levou para conhecer os arredores e comprar o que precisávamos (lençóis, toalhas, cobertores, despertadores, etc). O dia foi longo. Para finalizar, janta de supermercado.

Gyoza e shumai comprados na loja de conveniência ao lado da casa
No dia seguinte, outra estudante japonesa nos acompanhou até a universidade. O caminho é fácil, mas não tão simples. É necessário uma estãção de metro e mais alguns minutos caminhando. No caminho há um templo, onde paramos para algumas fotos.

Templo a caminho da Universidade de Kobe
Templo a caminho da Universidade de Kobe
Na universidade, pela terceira vez, o material já estava em mãos na secretaria, posicionado em uma pasta com plásticos. Após cópias de passaporte, carteira de residência, entrega de foto 3x2,5, assinaturas e fichas, fomos encaminhados a professores para fazerem uma primeira avaliação do nosso nível de língua japonesa e mais algumas orientações sobre a universidade e próximos "compromissos".

Centro Internacional de Estudantes da Universidade de Kobe
Vista do Centro Internacional de Estudantes da Universidade de Kobe
O próximo passo foi encontrar os alunos do TRUSS, que são um grupo de estudantes japoneses voluntários que ajudam os estrangeiros a resolver algumas coisinhas burocráticas além de auxiliar em outras dificuldades que tenhamos. Muito gentilmente, nos ajudaram a preencher uma série de formulários dos quais eu conseguia ler uma ou duas palavras. Após o almoço nos acompanharam para informar a prefeitura sobre nosso endereço, encaminhar o seguro de saúde, adquirir um passe mensal de metrô/trem e abrir nossas contas no banco. Admito que fazer tudo isso sozinha teria sido imensamente difícil.

Estação de Trem para o centro de Kobe
Na sexta-feira, mais uma ida à Universidade para o teste de nivelamento. Este foi um dia de romper barreiras. Até então, todos, ou quase todos, os meus afazeres foram realizados com o acompanhamento de alguém. Dessa vez, saí sozinha da Universidade, almocei sozinha em uma lancheria, fiz comprar no supermercado e voltei para casa de metrô. À tarde, fui à loja de eletrônicos e comprei um celular. Foi uma grande conquista!

E finalmente chegamos ao dia de hoje. Como disse hoje é sábado, um dia de chuva. Dormi um pouco mais. Tem sido comum o cansaço chegar mais cedo, devido à mudança de fuso horário. Com o tempo ruim, esperei um pouco mais para sair de casa. Mas a vontade de passear foi mais forte que o clima. Saí de casa e comprei um guarda-chuva, que custou ¥50, ou seja, em torno de R$1,00. Comprei minha máquina fotográfica. Passeei pelo porto e fui ao Museu de Arte da Prefeitura de Hyogo, onde vi uma exposição dos desenhos originais de Kunio Okawara. Ele trabalha com a parte "robótica" dos animes japoneses, e trabalhou em obras bastante conhecidas como Astro Boy, Gatchaman e a série Gundam. Os desenhos dele são impressionantes e possuem um conhecimento de engenharia bastante aprofundado. A chuva me mandou de volta para casa, após comprar meu jantar. 

Vista para o porto a algumas quadras da minha casa
Museu de Arte da Prefeitura de Hyogo
Museu de Arte da Prefeitura de Hyogo
Exposição de Kunio Okawara
E esta foi a minha primeira semana de aventura. Uma "regra não-falada" que existe para viagens internacionais é manter sempre os olhos bem abertos. É assim que aprendemos sobre os comportamentos de culturas diferentes das nossas. Aos poucos vou contando um pouco sobre o que os meus olhos vêem por aqui. Aguardem!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Embarcando

Se Kobe é o meu destino, nada mais lógico que descobrir um pouquinho sobre a minha nova cidade de residência. Logo que recebi a notícia, passei a pesquisar mais sobre esse lugar e descobri algumas coisinhas bem interessantes:

ONDE FICA KOBE?
Para o pessoal entender onde vou ficar... Kobe fica a:
30 km de Osaka
63 km de Kyoto
432 km de Tokyo
580 km de Fukushima (bem longe! hehe)



COMO CHEGAR EM KOBE?
Pois então... Kobe possui um dos 4 aeroportos construídos sobre Ilhas artificiais do Japão. O aeroporto foi inaugurado em 2006, com o objetivo de desafogar o aeroporto de Osaka, que estava recebendo uma demanda bem maior que a sua capacidade. Fica a 8 km da cidade e é conectado por uma linha de trem até a estação Sannomiya, que fica no centro de Kobe. Essa viagem leva em torno de 16 minutos. O aeroporto de Kobe também é ligado ao aeroporto de Osaka por uma balsa, cujo deslocamento tem duração de 29 minutos.
Porém, vôos internacionais chegam pelo Aeroporto Internacional de Kansai.

Aeroporto de Kobe
A IMIGRAÇÃO JAPONESA no Brasil tem como marco inicial a chegada do navio Kasato Maru, no Porto de Santos, no dia 18 de junho de 1908, que saiu do porto de Kobe. A embarcação trouxe, numa viagem de 52 dias, os 781 primeiros imigrantes vinculados ao acordo imigratório estabelecido entre Brasil e Japão.
 

Kobe foi aceita pela Rede de CIDADES CRIATIVAS da UNESCO como uma Cidade do Design em 16 de outubro de 2008. Para marcar a ocasião, este dia ficou marcado como Dia do Design de Kobe, quando ocorrem eventos para oferecer aos cidadãos a oportunidade de experienciar uma grande variedade de "designs".

Porto de Kobe
Todos os anos, no mês de dezembro ocorre o festival KOBE LUMINAIRE. No meio da cidade de Kobe são posicionadas milhares de lâmpadas pintadas a mão, doadas pelo governo italiano, criando uma mini-cidade de luzes em homenagem ao grande terremoto de 1995.

Kobe Luminaire
Em janeiro de 1995, Kobe sofreu com um grande TERREMOTO de magnitude 6.8. Após esta catástrofe, o Japão aumentou o investimento em estruturas resistentes a terremotos. Diversas medidas foram tomadas para diminuir os danos causados por futuros terremotos, como espaçamento maior entre edifícios, criação de rotas de escape e construção de abrigos em parques públicos.



Mais de 1.2 milhões de voluntários trabalharam nos três meses seguintes em apoio às famílias em necessidade. Dizem que até mesmo os yakuza (máfia japonesa) envolveram-se na distribuição de alimentos e materiais para as vítimas. Foi um momento de mudança de comportamento no voluntariado, transformando o dia 17 de janeiro no Dia Nacional do Voluntariado e de Prevenção ao Desastre.
(Mas fiquem tranquilos! Não consegui achar nenhum registro de outros terremotos na região de Kobe depois desse de 1995...)

Enquanto eu fazia as minhas pesquisas, as organizações da viagem foram seguindo seu rumo. Em janeiro assinei o "contrato" firmando a bolsa de estudos. Em fevereiro, comprei as malas para a viagem... lindas e Cor-de-rosa para serem bem fáceis de indentificar na esteira. Em março fiquei sabendo o meu local de residência inicial: uma casa internacional de estudantes chamada Hyogo International House. A própria Universidade fez a reserva de um quarto individual para mim.

Hyogo International Student House
Em torno de duas semanas antes do embarque recebi a definição do itinerário aéreo, com datas e locais. Embarco hoje, dia 1º de abril, à tarde. Chego lá amanhã de tardezinho, mas no Japão já será quarta-feira pela manhã. Fiz a minha maravilhosa festa de despedida... onde recebi muitas e muitas demonstrações de carinho e afeto. E então comecei a fazer a mala. Ah... fazer a mala. É a mala mais difícil que já fiz na vida. O que levar? O que se usa lá? Como é o verão? Como é o inverno? Acharei roupas do meu tamanho? Muitos questionamentos sobre isso... mas a mala está fechada e pronta. 

E agora, resta apenas uma coisa a fazer. Embarcar. Em algumas horas estarei me direcionando ao Aeroporto Internacional Salgado Filho. Vou despachar minhas malas (e torcer para que não ultrapassem o peso), almoçar e entrar no avião, sabendo que não voltarei tão cedo... que não é uma viagem de duas semanas ou de um mês. O nervosismo, é claro, reside em mim já faz algumas semanas. O frio da barriga também. Não por medo de não dar certo ou de ter algum problema, pois estou altamente confiante que está tudo muito bem planejado, mas porque é um momento de uma grande mudança. E mudanças fazem isso com as pessoas... dão frio na barriga, dão ansiedade e esses sentimentos só passam quando a transformação está completa. Então vamos lá... Vamos embarcar nessa aventura! Em breve trago informações diretas da terra do sol nascente!

Mosaic, no porto de Kobe
Eu agradeço imensamente o carinho que todos tem me mostrado nesses últimos dias. Me sinto uma pessoa de muita sorte, com relacionamentos muito sinceros e profundos. Vocês estão me dando força para encarar o desconhecido. A isso, eu sempre darei valor e serei eternamente grata! Muito obrigada.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Rumo a KOBE

Esse ano começa a maior viagem da minha vida...

Tudo começou com uma idéia a dois anos atrás, quando cursava faculdade de design. Foi a união de dois sonhos: fazer um mestrado no exterior e conhecer efetivamente a cultura japonesa. Estudando um pouco sobre o design japonês resolvi juntar o útil ao agradável: Fazer mestrado no Japão. E por que não? Entrei em contato com o Escritório Consular Japonês de Porto Alegre e descobri uma bolsa de estudos do governo japonês (Monbukagakusho: MEXT). Resolvi tentar.

A primeira tentativa foi em 2011 para cursar em 2012. Passei na entrega dos documentos, passei na prova de línguas, fui até a entrevista. Mas infelizmente não fui selecionada. Havia candidatos mais preparados e apenas duas vagas. Mas eu sou brasileira... e não desisto nunca! Hehe. Decidi tentar mais uma vez. Me candidatei novamente em 2012 para cursar em 2013. Mais uma vez, passei na entrega de documentos, na prova e cheguei na entrevista... desta vez mais nervosa do que na primeira vez. Pensei: "Duvido que eu tenha conseguido!", mas fiquei aguardando o resultado de qualquer forma.

Foi no dia 10 de julho de 2012, quando a recebi a notícia. Eu estava na 25 de março, em São Paulo, com minha amiga quando meu celular tocou. Atendi. Era o pessoal do Escritório Consular me perguntado se eu ainda estava interessada na bolsa, pois eu havia sido selecionada. Nesse ano eles conseguiram mais uma bolsa, por isso havia demorado o retorno, mas eu estava entre os dois primeiros selecionados. Não preciso dizer que a coitada da minha amiga teve que me carregar pela 25 de março até o nosso hostel, porque eu estava em choque total.

Depois de 189 curtidas e 99 comentários no facebook, a notícia se espalhou e começou a gincana da busca e correção de documentos: atestados de saúde, exames médicos, fotos 3,5cm X4,5cm... Mas nada muito difícil. O próximo passo foi entrar em contato com as Universidades. Esse foi o primeiro momento de medo de perder a bolsa. Eu precisava ser aceita em alguma Universidade de lá. E isso dependia totalmente de mim. Muito bem. Entrei em contato com três: Kyoto Institue of Technology, que oferecia o curso em inglês, e por isso se tornou a minha primeira opção; Kobe Design University, cujo curso é em japonês, mas oferece algum auxílio ao aluno estrangeiro, e é muito bem localizada para o meu projeto; e Musashino Art University, em Tokyo, na qual um dos professores é nada mais nada menos que Naoto Fukasawa, um designer conhecido internacionalmente (e que eu estudei na faculdade). A Musashino Art University era uma tentatia a longa distância de qualquer forma, pois é muito difícil entrar nas Universidade de Tokyo, e esta não oferecia nenhum tipo de auxílio aos estrangeiros. Infelizmente Tokyo não me aceitou. Mas tanto Kobe quanto Kyoto me aceitaram. O alívio real foi quando chegaram as cartas oficiais de aceite, com carimbo e tudo.


O segundo momento de medo foi quando precisava encaminhar as cartas de aceite para o Consulado, para que eles aprovassem. A primeira a me aceitar foi a Universidade de Kobe. Assim que chegaram os documentos, estes foram entregues. Mas o meu objetivo era Kyoto. E a carta não chegava. E eu comecei a ficar nervosa. E o pessoal do Consulado me ligando perguntando da carta, que já havia sido enviada! Descobri que foi postada com o CEP errado. A carta foi parar em Bagé e estava voltando para o Japão. No momento que descobri, entrei em contato com a Universidade, que prontamente me enviou outra. Mas as minhas chances para Kyoto diminuíram significativamente, pois já estava bem além do prazo de costume. Isso foi no final de novembro de 2012. Agora, tudo o que eu podia fazer era aguardar e torcer. A previsão de resposta, apenas no final de janeiro. E ainda corria-se o risco de talvez ser recusada (nunca aconteceu, mas tudo tem uma primeira vez...).

Foi nesta semana que chegou o resultado. Como o previsto... não rolou Kyoto. O meu destino: KOBE. Ao invés de conhecer os milhares de templos de Kyoto e viver em uma cidade preservada como patrimônio cultural, vou morar dois anos em uma das maiores cidades portuárias do Japão, escolhida pela UNESCO para participar da rede de cidades criativas como "Cidade do Design". Acho que foi uma troca justa...

A primeira semana de abril já está chegando... vamos lá...